Opinião

O futuro nas nossas mãos

Como autarca nos Açores, sei bem que, num tempo em que o mundo parece cada vez mais distante das pessoas comuns, as eleições autárquicas continuam a ser o momento mais próximo da democracia. Aqui, onde as distâncias são de mar e não de estrada, e onde cada freguesia tem rosto e memória, votar para eleger os representantes locais é, mais do que um direito, uma responsabilidade cívica de enorme peso.
Muitas vezes, fala-se de política como se fosse algo distante, frio, vindo de “lá de cima”, alheio à vida real das pessoas. Mas nas autárquicas, a política é outra.  Aqui, ela tem rosto, tem nome, tem gesto. É proximidade, é escuta, é presença no terreno. É feita de afeto, de compromisso, de entrega total. É a coragem de abraçar causas justas, de lutar pelos cidadãos mesmo quando o sistema complica, mesmo quando o problema “não é nosso”.  É dar o tudo por tudo, sempre,  porque quando está em causa o bem-estar das pessoas, não há desculpas nem adiamentos — há ação.
É por isso que, enquanto autarca, peço que cada cidadão reflita profundamente sobre o verdadeiro valor do seu voto. Não se trata de escolher partidos por inércia ou fidelidade cega, mas sim de avaliar programas, rostos, compromissos e trajetórias. Quem conhece a nossa terra? Quem nos ouve, quem nos representa com coragem e com coerência? Quem defende, de forma concreta e coerente, os nossos anseios?
Votar é muito mais do que um direito. É afirmar, em voz firme, que queremos uma comunidade mais justa e um futuro melhor. Mas um futuro melhor não se constrói com promessas fáceis, nem com discursos de divisão e medo. Essas vozes espalham desconfiança, alimentam o ódio e corroem os alicerces da nossa vida em comum.
Os Açores não estão imunes a estas tendências. Já se fizeram ouvir vozes que recusam o pluralismo, que procuram descredibilizar as instituições e que colocam em causa os valores democráticos. Perante isto, a resposta deve ser clara: reforçar a confiança no poder local como espaço de diálogo, de ação concreta e de proximidade com as pessoas.
Porque votar nas autárquicas não é escolher quem manda. É escolher quem cuida. E cuidar é o que fazemos todos os dias, com trabalho, com escuta e com dedicação. No próximo ato eleitoral, desejo que cada voto seja isso mesmo: um gesto de confiança no futuro e uma recusa firme a tudo o que ameaça a convivência, o respeito e a dignidade da nossa democracia.